terça-feira, 18 de agosto de 2009

O pôr do sol e a orquídea

O sol estava se pondo. O pôr do sol a fez lembrar-se do seu pai. E ela começou a falar.Ele estava mortalmente enfermo e sabia disso. Ela abandonou o seu trabalho para estar com ele. E conversaram sobre a partida que se aproximava, tranquilamente.Aqueles que aceitam a chegada da morte ficam tranquilos.Disse-me que a hora que seu pai mais amava era o crepúsculo.Desde menina, ele se assentava com ela e ia mostrando a beleza das nuvens incendiadas, a progressiva e rápida sucessão das cores: azul, verde, amarelo, abóbora, vermelho, roxo...À medida que a morte se aproximava, a fraqueza aumentava. Mas, mesmo fraco, queria ver o pôr do sol.
Talvez pela irmandade de um homem que morre e um sol que se põe.Numa dessas tardes, ela não conseguiu conter as lágrimas. Chorou. Ele a abraçou e colocou seu dedo sobre seus lábios.“Não quero que você chore...” E, apontando para o sol que se punha, disse: “Eu estarei lá...”E contou-me também de uma orquídea que silenciosamente acompanhou esses momentos de despedida.A orquídea, depois que seu pai partiu para o pôr do sol, se recusou a parar de florir...Será que o seu pai foi morar na orquídea? É possível..
.* * *O belo texto de Ruben Alves aborda, com delicadeza, uma temática muito comum nos textos espíritas.A Doutrina dos Espíritos tem como arcabouço maior a imortalidade da alma.Foram as vozes dos Imortais que se fizeram ouvir através da mediunidade segura e confiável de jovens francesas.
Foram essas vozes que bradaram: A morte não existe! Estamos aqui! Mais vivos do que nunca! Estamos no pôr do sol.E foram esses Espíritos, almas que já haviam vivido na Terra, que iniciaram o processo de elaboração da chamada Codificação Espírita.A autoria do Espiritismo é dos Espíritos em conjunto com Kardec.
Foram os seres que já se encontram no pôr do sol que anunciaram verdades confortantes aos amigos encarnados na Terra.A orquídea que nunca deixa de florir é similar à alma humana. Nunca deixa de existir, nunca deixa de crescer e florescer.Haverá dia em que iremos encarar a morte de forma diferente.Uma separação temporária que, às vezes, nem mesmo separação o é – se considerarmos que entre almas não necessita haver afastamento.O amor não se perde nunca, pois ele não está no outro, está em nós.O ser amado ora está aqui, ora acolá, nesses tantos ir e vires da vida, mas isso não faz o amor fenecer nem desistir de amar.O amor, por ser criação de Deus - como tudo, Nele confia sempre. Nele se fortalece.Que as inevitáveis separações da vida possam ser vistas de ângulos diferentes daqueles de sempre.Não perdemos ninguém, pois a ninguém possuímos na verdade.Ninguém deixa de existir, pois a morte não existe. É apenas um momento de transição de um estado de vida para outro. Todos vivem. Todos viveremos. Redação do Momento Espírita, inspirado no texto O pôr do sol e a orquídea, do livro Ostra feliz não faz pérola, de Ruben Alves, ed.Planeta.Em 21.07.2009.

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